terça-feira, 29 de abril de 2008

Socorro! Polícia?!

Estive hoje mais uma vez no ambulatório do Hospital. No mesmo corredor se enfileram e esperam dezenas de mães-do-futuro-se-Deus-quiser-e-a-tecnologia-ajudar e, logo mais à frente, mães que acompanham seus filhos para o atendimento pediátrico. No mesminho lugar umas com o desejo realizado, outras com a vontade estampada nos exames, na conversa risonha com o neném dos outros, na espera pela vaga para a tentativa de inseminação. Vinte e cinco por cento de chance de dar certo – elas sabem.

Entre esses grupos maternais, o centro ginecológico, que trata de exames de rotina até prevenções de câncer no colo do útero. Até aí, tudo ok. Esse fosso determinado pelo presente e o futuro não deveria causar nada mais que um “anthropological blues” numa aspirante à antropóloga.

De repente, no meio do calor, criançada e TV ligada (sempre!), entram 3 homens. Nenhum deles acompanhando uma mulher – figura fundamental desta ala do Hospital – ou uma criança. Dois deles estavam vestidos com um colete da polícia civil e o outro, estava com as mãos para trás, algemadas. Estava todo vestido de branco, mas não era médico. A estranha presença deste trio no recinto causou apreensão, no entanto, não necessariamente pela figura do detento. Um dos policiais portava uma arma que parecia um fuzil, uma escopeta, sei lá. Uma daquelas grandes, que parece fazer um estrago danado, sabe?

O preso sentou e aguardou até seu nome ser chamado pelas auxiliares – como qualquer outro cidadão. Fora chamado. Caminhou até a sala de triagem para medir a pressão sanguínea. Naquele momento, se medissem a pressão de todos que lhe seguiram com os olhos até que a porta se quedasse semicerrada, certamente estaríamos em estado de pré-eclâmpsia! Do lado de dentro, como pude observar por alguns segundos até que o constrangimento acompanhado da consciência pesada me fizessem virar o rosto, vi o homem de branco, o policial que parecia seu pajem e o guardião da arma de fogo todos virados para a mesa sendo atendidos.

Depois de um tempo, saíram os três da sala em fileira e se sentaram novamente – somente o policial armado ficara de pé, fazendo nossa segurança. Fiquei pensando se era isso mesmo que ele estava fazendo ali, com aquela arma, num corredor estreito cheio de mulheres e crianças. Sei não... O perigo de aquela arma disparar por acidente ou tentativa de fuga do detento não faria de nenhum de nós uma criatura protegida.

Essa sensação de segurança não me em ocorrido quando em companhia da polícia. Por exemplo, ultimamente tem tido muito mais policias nas ruas aqui de Brasília. Sempre que vou dar uma voltinha no fim de semana dou de cara com pelos menos umas cinco viaturas da polícia militar rondando com as sirenes cor-de-rosa. Pra ser bem sincera, não me sinto segura. Tenho mais a impressão de que estou sendo vigiada, por todos os cantos. Fui parada numa blitz certa vez e o guarda, depois de vistoriar o meu carro para verificar se eu não estava portando drogas:

- Posso ir, tudo certinho?

- Eu espero que sim, né. Vamos ver.

A polícia é aquela que tem direito a invadir a privacidade, entrar nos recintos, parar os carros, fazer baculejos, causar constrangimentos, provocar desconfortos pela segurança dos cidadãos. Pergunto-me: aquele cidadão que volta pra casa sujo, cansado e faminto de um dia longo de trabalho e é parado, no caminho de volta pra casa, por um policial que nem sequer lhe pergunta o nome antes de jogá-lo contra uma parede, abri-lhe as pernas e imobilizá-lo está sendo cuidado ou violado? Seguro ou invadido?

Aquelas mulheres e crianças no corredor de espera do Hospital estavam se sentindo assustadas ou seguras? Com medo talvez? Medo de quem? Do quê?

Aquele moço de branco que fora aconselhado por uma moça do banco da frente a “não cair de novo na besteira” era realmente um cidadão como outro qualquer esperando atendimento?

Estive a ler nos últimos dias que fora incorporado aos direitos universais do homem (e da mulher!), que já incluía há muito o direito à segurança provido pelo Estado o direito à saúde e. incluído neste, o direito reprodutivo. Hoje, naquele corredor havia tudo e mais no que tocava o bojo dos direitos humanos. Só que... Sabe quando a gente aprende melhor com os contra-exemplos? Então.